voltar Liturgia diária 07/03/2021 3º Domingo da Quaresma

Dia 7 – 3º domingo do tempo da quaresma: Ex 20,1-17; Sl 18(19); 1Co 1,22-25; Jo 2,13-25.

BOA NOVA PARA CADA DIA. A LITURGIA DIÁRIA COMENTADA

A leitura do trecho do livro do êxodo é uma das versões do decálogo. A outra nós a encontramos em Dt 5,1-22. O decálogo, e toda a Lei, no Pentateuco, vem depois dos relatos da criação e da libertação do povo de Deus do Egito. Isso significa que o decálogo está a serviço da vida e da liberdade. O cumprimento da lei é a defesa da vida e da liberdade, dons de Deus.

Com nuances próprias a cada evangelista, o episódio da purificação do Templo encontra-se também nos evangelhos sinóticos (Mt 21, 12-13; Mc 11, 11.15-17; Lc 9, 45-46). Era escandaloso o que acontecia no Templo, de modo especial nas grandes festas judaicas e, sobretudo, na páscoa. Os sumos sacerdotes e toda a aristocracia ligada ao Templo se aproveitavam das festas religiosas para intensifica o comércio e, consequentemente, o câmbio de moedas. Aproveitavam-se da obrigatoriedade que todo judeu piedoso tinha de oferecer sacrifícios e das longas distâncias que os peregrinos percorriam para a chegarem a Jerusalém para comercializarem todo tipo de animais prescritos pela Lei para serem oferecidos em sacrifício. Além disso, a moeda para a compra tinha de ser pura, isto é, ela não podia conter nenhuma efígie ou inscrição que pudesse denotar idolatria. Daí a necessidade de os compradores terem de trocar suas moedas pela moeda “pura” do Templo de Jerusalém, inclusive para fazerem as ofertas voluntárias que eram depositadas nos cofres (cf. Lc 21, 1-4). A cena é dramática: com um chicote, Jesus expulsa do templo comerciantes e cambistas. A razão da atitude de Jesus, sentida como violenta pelos judeus, é dada pela evocação de uma passagem do Profeta Zacarias: “... Já não haverá mercadores no Templo do Senhor dos exércitos” (Zc 14, 21) e pela recordação dos discípulos que encontram no Sl 69, 10 uma justificativa pelo que Jesus fez. A pergunta dos judeus a Jesus é pelo significado do gesto. Ao que Jesus responde que o templo construído por mãos humanas será destruído e passará, e revela um novo lugar da habitação de Deus. Em Jesus aprouve a Deus habitar com a plenitude de sua graça (cf. Jo 1,14). Jesus é o verdadeiro Templo, o lugar em que Deus habita; onde Ele é encontrado e se deixa encontrar. Ele é que será destruído, na morte violenta numa cruz, mas reerguido pelo poder de Deus, com sua gloriosa ressurreição. O anúncio da destruição do Templo de Jerusalém é anúncio, igualmente, da abolição dos sacrifícios antigos, pois, eles não podiam salvar os homens de seus pecados; somente o Cristo que ofereceu o sacrifício de sua vida de uma vez por todas e entrou no santuário eterno é que salva a toda a humanidade (cf. Hb 9, 1-14; 10, 11-18). Na morte de Cristo na cruz, o véu do santuário se rasga de baixo acima. Esse é o anúncio da destruição do Templo. O verdadeiro santuário é o corpo de Jesus que foi destruído, mas Deus no seu imenso amor transformou este fato injusto em ocasião de vitória sobre o mal e a morte.

 

Autor: Pe. Carlos Alberto Contieri, biblista que estudou a Sagrada Escritura em países como Itália, Bélgica e Israel, atualmente é Diretor do Pateo do Collegio e Coordenador do Patrimônio Histórico e Cultural da Companhia de Jesus no Brasil.